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Noturno

Maria Bethânia
Discos: MPB

Disponible

19,36 € impuestos inc.

Ficha técnica Discos

Sello Biscoito Fino
Estilo MPB
Año de Edición Original 2021

Más

Maria Bethânia (voz)

Toninho Ferragutti (acordeón), Zé Manoel (piano, teclado, sintetizador), João Camarero o Pedro Franco (guitarra de 7 cuerdas), Rafael Freire (cavaquinho), Jorge Helder (bajo eléctrico), Marcelo Costa o Pretinho da Serrinha (percusión) y quinteto de cuerdas. Arreglos y dirección de Letieres Leite.

Participación especial de: Xande de Pilares (voz, cavaquinho).

Edición en formato Digipack.

"Álbum com a magnitude do canto de Maria Bethânia, Noturno se alimenta do contraste entre a claridade e o breu que move as onze músicas e o poema que compõem o repertório deste disco gravado pela artista sob direção musical do maestro baiano Letieres Leite, criador dos arranjos.
Luz de sol negro que irradia pelo Brasil os sentimentos contraditórios do mundo há seis décadas, o canto de Bethânia brilha em Noturno com a chama que pareceu ter baixado no álbum anterior da artista, Mangueira – A menina dos meus olhos (2019), tributo à escola de samba Estação Primeira de Mangueira conduzido à apoteose mais pelos arranjos de Letieres.
Em Noturno, o canto da intérprete e os arranjos do maestro se ombreiam com a produção musical do baixista Jorge Helder. Diamante verdadeiro lapidado desde 1965, a voz de Bethânia alia à maturidade uma precisão que a permite delinear com nitidez o vaivém entre a luz e a treva que norteia o álbum Noturno – movimento ignorado na arte da capa branca e inexpressiva do disco que causou decepção entre os seguidores da artista.
A dramaticidade do canto permite a intérprete expor em Dois de junho (Adriana Calcanhotto, 2020) a escuridão que encobre as luzes do Brasil, país negro e racista em que dissonâncias como a morte do menino Miguel Otávio Santana da Silva (2014 – 2020) – filho da empregada doméstica Mirtes Renata Santana de Souza, morto por descuido da patroa da mãe, Sari Mariana Costa Gaspar Côrte Real – acontecem em cotidiano embrutecido pela injustiça social.
Em Dois de junho, a dona do dom de interpretar palavras e sentimentos alheios se apodera dessa canção que expõe desarmonia sublinhada pelo toque sujo das guitarras de Pedro Sá. A canção é de autoria de Adriana Calcanhotto, compositora de outra música, A flor encarnada, que faz o álbum Noturno desabrochar na escuridão – no caso, na treva de paixão que esmaga coração desiludido.
Faixa previamente apresentada em 25 de junho como primeiro single do álbum Noturno, A flor encarnada é uma das quatro músicas que o repertório do disco herda do roteiro de Claros breus (2019), show no qual Bethânia já esboçou o desenho claro-escuro que ganha maior nitidez no disco.
Do show Claros breus, vem também o samba-canção Bar da noite (Bidu Reis e Haroldo Barbosa, 1953), rebobinado no disco em registro primoroso de voz e piano, o de Zé Manoel, no mesmo formato minimalista de A flor encarnada.
Em Bar da noite, Bethânia ecoa o canto grave de Nora Ney (1922 – 2003) enquanto sorve tristezas de amores, abrigada no refúgio dos corações afogados no álcool e no mesmo sertão de lágrimas que encharca A flor encarnada.
E por falar em sertão, vem de lá a poesia da grande música inédita do álbum, O sopro do fole, de Zeca Veloso, artista que já começa a se confirmar o grande compositor insinuado há quatro anos na apresentação da canção Todo homem (2017).
Ao cantar O sopro do fole, Bethânia aperta “os baixo” do coração, por sentir melancolia ao remoer o percurso feito por nordestinos rumo ao sudeste, sem perder a memória da festa, evocada ao fim da faixa pelo toque serelepe do mesmo acordeom – o do virtuoso Toninho Ferragutti – que, antes, acentuara a tristeza embutida na gravação, também bordada pelo toque do violão de Pedro Franco.
O sopro do fole bafeja o mesmo suspiro de saudade que embasa o samba De onde eu vim, bela contribuição de Paulo Dáfilin para o repertório do disco. Só que a saudade, desta vez, soa sem melancolia. Até porque Bethânia veio da Bahia, terra alegre cujo dendê tempera esse samba que parece pisar em terreiros ancestrais na introdução marcada pela percussão do ritmista Marcelo Costa.
Sob outro prisma, a exaltação da Bahia é refeita em Lapa santa (Paulo Dáfilin e Roque Ferreira), faixa apresentada em 16 de julho como segundo single do álbum Noturno.
Música difícil de ser cantada pelas divisões inusitadas, o que somente reforça a luminosidade do canto de Bethânia aos 75 anos completados em junho (aliás, 74 anos, pois o disco foi gravado entre setembro e outubro de 2020), Lapa santa alude a Bom Jesus da Lapa (BA), município baiano banhado pelas águas do rio São Francisco, em cujas margens o povo brasileiro faz a festa e exercita a fé.
Perceptível já na introdução majestosa das cordas, a grandeza do arranjo de Letieres Leite evidencia o acerto do encontro entre a cantora e o maestro na louvação ao Velho Chico. Em paisagem mais seca e distante, banhada pela dor cigana, Vidalita recusa a festa, imersa na resignação que acalenta essa canção flamenca da compositora catalã Maria Teresa Martín Cadierno.
Lançada em 2000 na voz da autora, artisticamente conhecida como Mayte Martín, Vidalita é veículo para a exposição da fina sintonia entre Bethânia e o violonista João Camarero, único músico da faixa. Resistindo à tentação do exibicionismo, Camarero recusa os clichês do flamenco ao manusear as sete cordas de violão, expressando com Bethânia o sentimento da canção em espanhol, idioma bissexto na discografia da cantora.
Em atmosfera vintage que remete aos sambas-canção pré-bossa nova dos anos 1940 e 1950, o bolero Prudência – composição feita por Tim Bernardes especialmente para Bethânia – retoma o clima à meia-luz dos bares em que os fracassados do amor se refugiam para expiar em bom português as dores do coração e do cotovelo." Mauro Ferreira (g1.globo.com, 30.07.2021)

Temas

CD 1
01
Bar da noite
Bidu Reis - Haroldo Barbosa
Maria Bethânia & Zé Manoel
02
O sopro do fole
Zeca Veloso
03
Lapa santa
Paulo Dafilin - Roque Ferreira
04
De onde eu vim
Paulo Dafilin
05
A flor encarnada
Adriana Calcanhotto
Maria Bethânia & Zé Manoel
06
Vidalita
Maria Teresa Martin Cadierno
Maria Bethânia & João Camarero
07
Prudência
Tim Bernardes
08
Música música
Roque Ferreira
Maria Bethânia & João Camarero
09
Cria da comunidade
Xande de Pilares - Serginho Meriti
Maria Bethânia & Xande de Pilares
10
Dois de Junho
Adriana Calcanhotto
11
Luminosidade
Chico César
12
Uma pequenina luz (poema fragmentos)
Jorge Sena