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Nelson Cavaquinho & Cartola & Carlos Cachaça: Caminho da existência

Eliete Negreiros
Libros: Música

Disponible

28,90 € impuestos inc.

Ficha técnica Libros

Editorial SESC SP
Estilo Música
Año de Edición Original 2025

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212 páginas (17 x 24 cm) (Peso: 382 g)

"Uma das criadoras do movimento musical conhecido como vanguarda paulista, Eliete Eça Negreiros é uma celebrada cantora que se formou em Filosofia, seguindo por seu mestrado e doutorado nesta mesma disciplina. É possível dizer também que Eliete é uma filósofa que indaga a música, refletindo sobre os segredos sugeridos na canção popular. Em Nelson Cavaquinho & Cartola & Carlos Cachaça: caminho da existência Eliete Negreiros faz, numa elaboração profunda e cheia de beleza, a aproximação entre filosofia e canção a partir da obra dos três compositores que dão título ao livro. Analisando as canções e a trajetória dos três sambistas, todos cariocas e mangueirenses, convida o leitor a enxergar o samba não apenas como gênero musical, mas como sabedoria popular e resistência cultural. Um exemplo? Para abordar o tema velhice nas canções “Degraus da vida”, “Rugas” e “Folhas secas” de Nelson Cavaquinho, Eliete convida, por ordem de entrada de citações em cena, os filósofos, poetas e escritores: Simone de Beauvoir, Aristóteles, Sêneca, Horácio, Ovídio, Montaigne, Goethe, Cecília Meireles, Sartre, Rousseau, Epicuro e Manuel Bandeira. O recurso oferece um corte que aproveita a vastidão dos versos de Nelson Cavaquinho como: “Sei que estou no último degrau da vida, meu amor” e “As rugas fizeram residência no meu rosto” para dimensionar e refletir sobre a velhice e sua lenta voracidade, “difícil fase da existência humana”. Como escreve Hermano Vianna na quarta capa do livro, “cada samba tem sua análise cuidadosa, como pequenos tratados da condição humana, como estrelas em torno das quais toda a diversidade da filosofia passa a girar”."

"Angenor de Oliveira (11 de outubro de 1908 – 30 de novembro de 1980), Carlos Moreira de Castro (3 de agosto de 1902 – 16 de agosto de 1999) e Nelson Antônio da Silva (28 ou 29 de outubro de 1911 – 18 de fevereiro de 1986) tiveram os caminhos cruzados pela vivência comum no mundo do samba e no Morro de Mangueira, sede da Estação Primeira de Mangueira, tradicional agremiação carnavalesca do Rio de Janeiro (RJ) à qual os três bambas cariocas estão eternamente associados, sendo Angenor e Carlos dois dos fundadores da escola criada em 1928.
Angenor está imortalizado como Cartola. Carlos é identificado na certidão artística pelo sobrenome Cachaça, indicador da vida boêmia. Nelson passou a ser para sempre Cavaquinho por conta da habilidade singular do músico no toque instrumento que lhe deu o sobrenome artístico.
Unidos tanto na galeria dos imortais do samba como no disco coletivo Fala, Mangueira! (1968), gravado antes de os três bambas terem a chance de fazer os próprios álbuns individuais na década de 1970, Cartola, Carlos Cachaça e Nelson Cavaquinho têm afinidades poéticas e existenciais iluminadas à luz da filosofia do samba e da vida em Caminho da existência, ensaio da pesquisadora musical Eliete Negreiros transformado em livro via Edições Sesc. Na capa, os bambas são vistos em ilustrações do caricaturista Cássio Loredano.
O título do livro Caminho da existência reproduz o nome de poema escrito por Carlos Cachaça em 1930, muito tempo depois musicado por Delcio Carvalho (1939 – 2013) na cadência bonita do samba – em ano impreciso – e enfim gravado por Delcio no álbum Afinal, de 1996.
Cantora associada à Vanguarda Paulista (movimento que sacudiu a música de Sampa na primeira metade da década de 1980) e autora de dois livros em que disseca a filosofia do samba de Paulinho da Viola, Eliete Negreiros reflete no atual livro sobre a forma como a vida – a existência, enfim – é celebrada ou até eventualmente amaldiçoada pela dor nas letras dos sambas destes três bambas de origens pobres que transcenderam os becos e ruelas do Morro de Mangueira para transitar pelo Brasil com obras legitimadas pelas elites culturais. Obras que carregam os sentimentos do mundo.
Cada bamba do samba merece um ensaio. O primeiro ensaio, O samba de Nelson Cavaquinho – Amor, sofrimento e morte, foca a obra deste compositor de vida boêmia e aura lendária que apontou mais os espinhos do que as flores em sambas que espreitam a morte com morbidez em letras de músicas assinadas por Nelson com parceiros como Guilherme de Brito (1922 – 2006), Alcides Caminha (1921 – 1992) e Amâncio Cardoso (19?? – ????), letrista de Luz negra (1964), samba nascido como tema instrumental e assim lançado em disco em 1961 pelo violonista Baden Powell (1937 – 2000).
Após traçar em linhas gerais a biografia de Nelson Cavaquinho, Eliete Negreiros analisa as belezas trágicas de alguns sambas do compositor. A propósito, em todo o livro, a autora se detém mais nos sambas do que na vidas dos compositores. São através das letras deles, os sambas, que Eliete reflete sobre os caminhos alegres ou tristes da existência – mote dos ensaios.
Tais reflexões são feitas com citações de pensamentos de filósofos como Sêneca (4 a.C. – 65) ou escritores como Simone de Beauvoir (1908 – 1986), ambos citados, por exemplo, quando Eliete aborda a questão da velhice e da finitude ao analisar a letra do samba Degraus da vida (Nelson Cavaquinho, César Brasil e Antônio Braga, 1950).
No ensaio sobre o autor de As rosas não falam (1976), Cartola – Samba, delicadeza e amor, a narrativa deixa entrar a luz que iluminava o lirismo da obra do parceiro de Elton Medeiros (1930 – 2019) em O sol nascerá (1964).
Após o relato biográfico da vida de Cartola, a autora discorre especificamente sobre os repertórios lapidares dos dois primeiros álbuns do artista, ambos intitulados Cartola e lançados em 1974 e 1976, entrando também nos sambas dos discos posteriores Verde que te quero rosa (1977) e Cartola 70 anos (1979).
Predomina o tom solar de sambas como Corra e olhe o céu (Cartola e Dalmo Castello, 1974), mas Eliete também discute a rigidez de princípios que rege a lição de moral dada pelo poeta nos versos do samba-canção O mundo é um moinho (1976), uma das obras-primas da obra do inverno do tempo de Cartola.
Por fim, o livro Caminho da existência desemboca no ensaio de maior valor documental, mas infelizmente o mais curto do livro. Os sambas de Carlos Cachaça – O caminho da existência joga alguma luz sobre a vida e a obra de um artista bem menos documentado, discutido e ouvido do que Cartola e Nelson Cavaquinho.
Compositor desde 1922, ano em que fez o samba Não me deixaste ir ao samba em Mangueira, Cachaça somente gravaria o primeiro (e único) álbum solo em 1976.
É sobre o repertório deste álbum que Eliete Negreiros se debruça ao fim do livro, abordando rapidamente músicas como a valsa Clotilde – composta pelo poeta para a companheira da vida inteira – e a obra-prima Alvorada (1968), parceria de Cachaça com Cartola (com quem fez música e letra da primeira parte) e Hermínio Bello de Carvalho (letrista da segunda parte, cuja música é de Cartola).
Se Alvorada descortina a luz dos olhos de quem vê a vida com poesia, Não quero mais amar a ninguém (Cartola, Carlos Cachaça e Zé da Zilda, 1936) traz um eu-lírico de coração fechado no tempo do desencanto. Porque é assim, entre a luz e a sombra, entre a alegria e a tristeza, que caminha a humanidade em existência ora feliz, ora sofrida, em dicotomia tão bem refletida nos sambas desses três bambas de vidas e obras magistrais que, como mostra o ensaio de Eliete Negreiros, sempre transitaram com naturalidade e poesia entre o sol da esperança e as sombras da desilusão." Mauro Ferreira (g1.globo.com, 31.07.2025)