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Lira Paulistana - Um delírio de porão

Riba de Castro
Libros: Música

Disponible

49,90 € impuestos inc.

Ficha técnica Libros

Editorial Independiente
Estilo Música
Año de Edición Original 2014
Observaciones historia

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208 páginas (22 x 25 cm, ilustrado en color) (Peso 1010 g)

La trayectoria del mítico local "Lira Paulistana" -teatro y centro cultural- paulistano que fue núcleo de la vanguardia paulista de los años 80, contada por uno de sus fundadores. Con declaraciones de los fundadores, artistas, productores y periodistas  y con un amplio material iconográfico (carteles, folletos y fotos de los espectáculos y de los discos editados por el sello Lira Paulistana).

"O que Tetê Espíndola, Itamar Assumpção, os grupos Rumo, Titãs, Ultraje a Rigor, Premê, Paranga e Língua de Trapo têm em comum? Pelo menos uma coisa: o teatro Lira Paulistana. Todos vivenciaram sua primeira vez ou grandes momentos, em São Paulo, no Lira Paulistana.
A esse pessoal todo, podem se somar muitos outros artistas – alguns deles já muito famosos, na época, como Jorge Mautner, Jards Macalé e Tom Zé – que se apresentaram, não pela primeira vez, mas com o mesmo espírito de criação, de ineditismo, no porão mais famoso de São Paulo, ...no início dos anos 1980, um depósito de ferragens transformado em teatro, na rua Teodoro Sampaio, 1.091, em frente à praça Benedito Calixto, no bairro de Pinheiros.
Mas o Lira não foi “só” um teatro. Foi muito mais. Um jornal pioneiro com a programação cultural da cidade, uma gravadora, uma editora e também um reduto de militância musical e política. Era aberto a todo tipo de arte, inclusive cinema.
Foi lá que vi e ouvi pela primeira vez e me apaixonei por todo esse pessoal já citado. Toda vez que me lembro do Lira, lembro-me também do título de um filme brasileiro, A Lira do Delírio, que vi pela primeira vez no Lira Paulistana. Não tem nada a ver uma coisa com a outra, é que eu achava que o Lira Paulistana era um mesmo delírio permanente, naquela época em que a ditadura esperneava para não acabar e que a Vila Madalena começava a deixar de ser uma “periferia de Pinheiros”.
O agito não parava, era cotidiano. Parecia que estávamos no meio de uma revolução, pois, como dizia Che Guevara, “quando o extraordinário se torna cotidiano, é a revolução”. E, enquanto coisas extraordinárias aconteciam na política – entre elas a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) –, nós, em Pinheiros e adjacências, vivíamos também um extraordinário momento musical, com o surgimento de muita gente boa na música, muitas inovações, muita qualidade, aqui pertinho de nós.
Sempre pensei que devia existir um livro registrando a existência do Lira Paulistana escrito por um dos seus criadores, e agora tenho o prazer de ver isso acontecendo, como uma espécie de autobiografia dele, pois Riba e Lira para mim se confundem, são uma coisa só, uma “pessoa” só, agitada, anárquica e anarquista. O Lira foi-se, acabou, e a outra parte dele, o Riba, ficou resistindo com sua criatividade libertária, militante, humanista. Em outro porão, na Vila Madalena, pertinho do Lira, ele criou o Estúdio Pirata, que, usando uma palavra dos tempos atuais, poderia se autodenominar de “multiarte”, onde esbanjava criatividade.
Depois, foi para Barcelona e, em seguida, para Madri, mas continuou com suas criações e não deixou de ser um guardião da história e de uma farta documentação do Lira, que transformou agora em mais uma criação, um livro que me emociona. Além do texto, cada cartaz, cada foto, me faz viajar no tempo, relembrar velhas lutas, velhas diversões, velhas alegrias.
Enfim, para quem viveu o Lira, este livro é um monte de boas lembranças, de saudade. Para quem não viveu, as histórias do Lira serão, certamente, motivo para dizer: “Pena que eu não estava lá”." Mouzar Benedito

"Na década de 1980, quem quisesse descobrir as novidades da música nacional precisava procurar sob o asfalto. Bastava descer uma escada estreita que partia de uma porta na praça Benedito Calixto, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, e levava ao Lira Paulistana: um misto de teatro, editora e promotora de evento. Naquele ambiente underground, surgiram grupos como os Titãs, Ira e Ratos de Porão. Enquanto o regime militar avançava em uma lenta transição para a democracia, o Lira reunia, no espaço apertado entre as arquibancadas e o palco, uma turma de músicos jovens que sonhava renovar a música popular brasileira.
O Lira abriu suas portas em 1979. Teve vida curta: sobreviveu até 1986. Em uma cidade onde faltavam pequenas casas de show, os 400 m² do teatro atraíram artistas em início de carreira, com pouquíssimo dinheiro e ainda desconhecidos do público. “Os shows no Lira funcionavam em esquema de temporada”, diz Riba de Castro, cineasta e um dos sócios do porão. “No mínimo, de quarta a domingo. Isso era bom: o artista precisa de horas de palco tanto quanto o piloto precisa de horas de voo.”  Foi Riba quem reuniu os registros dessas horas de voo em um livro recém-lançado: Lira Paulistana, um delírio de porão (Natura Musical).
Além da história do teatro, contada por Riba e pelos outros sócios e personalidades que por lá passaram, o livro reúne imagens dos grupos que pisaram no palco do Lira, ou que participaram dos eventos que o teatro organizou fora do porão. Clique na foto abaixo para abir a galeria com as fotos do livro:
Foram lá que estrearam os Titãs do Iêiêiê – uma foto de Toni Belotto no microfone dá uma pista da passagem do tempo. Os Titãs tocavam depois da meia-noite, na sessão maldita, a hora reservada para os grupos de rock que surgiam. Eram acompanhados por Ira, Ratos de Porão e Cólera.
A turma do Lira reunida na porta do Teatro. Em pé, da esquerda para a direita: Wilson Souto Jr., Riba de Castro, Plínio Chaves; Eduardo e Fernandinho; sentado: Fernando Alexandre,Marcia Uciama, Chico, Norberto e Tiago Araripe (Foto: Arquivo/ Riba de Castro)
A turma do Lira reunida na porta do Teatro. Em pé, da esquerda para a direita: Wilson Souto Jr., Riba de Castro, Plínio Chaves; Eduardo e Fernandinho; sentado: Fernando Alexandre,Marcia Uciama, Chico, Norberto e Tiago Araripe (Foto: Arquivo/ Riba de Castro)
Apesar do sucesso com o rock, o Lira é mais lembrado por dar espaço ao conjunto de músicos que seria apelidado de “Vanguarda Paulista” pelos jornalistas da época. Mesmo no  final de década de 1970, a indústria musical brasileira ainda era dominada por nomes surgidos na década anterior, durante os grandes festivais de música da televisão.  Por anos, os festivais serviram de laboratório para as gravadoras. Os artistas que faziam sucesso na TV tinham maiores chances de emplacar boas vendas. Os festivais chegaram ao fim com o Ato Institucional número 5, que estabeleceu a censura no país. As empresas preferiram não se arriscar e se concentraram nos nomes já famosos: “As rádio só tocavam os medalhões”, diz Riba. Artistas conhecidos ainda hoje: Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa.
O Lira, mesmo sem dinheiro, decidiu investir nos talentos novos dessa Vanguarda.  Em bandas como o Grupo Rumo, Língua de Trapo e Premeditanto o Breque, que se apresentaram diversas vezes no teatro. E, especialmente, em um músico negro e pobre, paulista criado no Paraná, de nome Itamar Assumpção – pai da cantora Anelis Assumpção. O Lira estreou como gravadora com o LP “Beleléu,Leléu,eu”, primeiro de Itamar. Os vocais complicados da canção incluíam  onomatopeias e conversas entre Itamar e suas backing vocals. Soavam como uma grande novidade.  “O Itamar é o maior legado deixado pelo Lira”, diz Riba. “O Brasil teve um artista daquele calibre e não soube valorizar.”
Foi a morte de Itamar, em 2003, que despertou em Riba a vontade de revisitar a história do teatro. Na época, Riba estava em Madri, onde mora. A saudade o fez procurar os velhos registros que guardava – fotos, cartazes de shows, capaz de disco. Junto do material sobre Itamar, Riba encontrou as lembranças dos outros artistas e amigos que passaram pelo Lira. “Eu quis contar essa história por medo de que alguém contasse antes”, diz.
O livro e as fotos ajudam a dar uma dimensão do que o Lira representou nos sete anos de sua existência. Nesse tempo, o porão publicou o primeiro livro do cartunista Glauco (assassinado em 2010), organizou shows na Avenida Paulista, gravou discos, exportou seus sucessos para outras cidades. Viu surgir o rock paulista e ajudou a organizar manifestações pelas eleições diretas no país. Serviu de ponto de encontro, casa de shows, espaço para discussão política e estética. Fez até um jornal que organizava e divulgava os eventos culturais de São Paulo: “Escrevíamos sobre o que acontecia de uma periferia a outra”, afirma Riba. Tudo sob o asfalto. “Eu acho que algumas das coisas que a gente fez têm mais importância hoje do que na época”, diz Riba. “De perto, tudo parece tão normal.”" Rafael Ciscati (Época, 16.12.2014)